quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A importancia da figura paterna na psicologia


Na psicologia, a figura paterna é crucial para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo de uma criança, promovendo segurança, independência e a introdução de limites e regras sociais. O pai, e por extensão outros cuidadores ( figura paterna ), estimula a exploração do mundo, o autoconhecimento e a formação do caráter, servindo como um modelo de conduta e referência para o desenvolvimento da identidade e da autoestima. 

O pai, e por extensão outros cuidadores ( figura paterna ), estimula a exploração do mundo, o autoconhecimento e a formação do caráter, servindo como um modelo de conduta e referência para o desenvolvimento da identidade e da autoestima. 

O papel do pai vai muito além de prover sustento ou presença física. A figura paterna exerce uma influência profunda no desenvolvimento emocional e psicológico dos filhos. 

🔹 Segurança emocional – Pais presentes transmitem sensação de proteção, ajudando a criança a lidar melhor com medos, frustrações e desafios.

🔹 Construção da autoestima – O reconhecimento, incentivo e afeto paterno fortalecem a confiança e a percepção positiva que a criança tem de si mesma.

🔹 Modelos de relacionamento – A forma como o pai se relaciona com o(a) parceiro(a), com os filhos e com as pessoas ao redor serve de referência para como a criança aprenderá a se relacionar na vida adulta.

🔹 Saúde mental a longo prazo – Estudos mostram que filhos de pais participativos tendem a apresentar menor risco de depressão, ansiedade e dificuldades emocionais no futuro.


A psicoterapia pode ser uma ferramenta útil para lidar com as angústias da paternidade e para auxiliar crianças que cresceram sem a presença de uma figura paterna, permitindo a cura de feridas e a busca por força interior. 

A presença ativa, o diálogo aberto e o carinho paterno constroem vínculos afetivos sólidos, fundamentais para a formação da identidade e da saúde mental dos filhos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Epidemia ( de empobrecimento) Cognitivo


"Vivemos uma epidemia cognitiva. Não é transmitida por vírus, mas pela passividade mental. A cada scroll no celular, a cada curtida automática, treinamos o cérebro para seguir a massa sem questionar. O resultado? Um declínio cognitivo coletivo, onde a falta de senso crítico vira norma e o pensamento independente se torna quase exótico.


E aqui vai a verdade incômoda: eu mesmo já me peguei diversas vezes seguindo a manada… sem nem saber por quê. Talvez porque é confortável. Gostosinho. Evita conflitos. Mas é nesse conforto que a gente se anestesia.

Nunca tivemos tanto acesso à informação e, paradoxalmente, nunca fomos tão superficiais. Segundo a UNESCO (2023), apenas 13% dos jovens brasileiros conseguem interpretar textos longos com análise crítica. O relatório do Pisa 2022 mostra uma queda de mais de 20 pontos em leitura nos últimos 10 anos. E a Microsoft (2019) revelou que a capacidade média de atenção humana caiu para 8 segundos, menos que a de um peixe dourado.

Sherry Turkle, em Reclaiming Conversation, explica que a avalanche de estímulos digitais está corroendo nossa habilidade de refletir. Daniel Kahneman, no clássico Rápido e Devagar, mostra como o “Sistema 1” (rápido e intuitivo) domina, evitando o esforço do “Sistema 2” (lento e analítico). É o efeito manada operando em alta velocidade — alimentado por algoritmos que reforçam o que já pensamos, sem espaço para o contraditório.

A juventude, moldada pelas redes sociais, está mais exposta a narrativas prontas e menos disposta a fazer perguntas incômodas. Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço, alerta que não é falta de inteligência, mas um esgotamento mental crônico que sufoca a capacidade de pensamento crítico.

George Orwell já havia previsto, em 1984: “A massa manter-se-á dócil, desde que não tenha consciência”. Hoje, a consciência é terceirizada para influenciadores, algoritmos e manchetes rápidas.

Para combater essa epidemia cognitiva, não basta colocar mais tecnologia nas escolas. É preciso ensinar, desde cedo, a fazer a pergunta fundamental: “Por que acredito nisso?”. Sem esse treino, seremos consumidores dóceis, repetidores de ideias alheias — achando que pensamos por conta própria.

Ou despertamos agora… ou continuaremos, felizes e distraídos, confortavelmente anestesiados, rumo à obediência absoluta."

Reflexão do Professor Willians Fiori postado no Linkedin



domingo, 6 de julho de 2025

Palavras...




Elas parecem simples, mas carregam um impacto profundo. As palavras que usamos no dia a dia são capazes de moldar emoções, fortalecer (ou enfraquecer) vínculos, influenciar pensamentos e até transformar o funcionamento do nosso cérebro. Quando utilizamos a linguagem com consciência, criamos pontes capazes de promover bem-estar e conexão.

Desde os tempos antigos, a comunicação tem sido essencial para a evolução humana. Afinal, elas podem curar ou ferir, acolher ou afastar. A forma como nos expressamos impacta diretamente nossos sentimentos e a relação com o mundo. Aliás, seu poder é tão grande que ele é capaz de impactar o cérebro

Segundo o neurocientista Mariano Sigman, palavras positivas ativam áreas cerebrais ligadas à recompensa, como o córtex pré-frontal e o núcleo Accumbens – regiões associadas à motivação, tomada de decisões e prazer. Já as palavras negativas despertam a amígdala, centro emocional do medo e da ansiedade. É por isso que um elogio sincero pode nos impulsionar, enquanto uma crítica ríspida pode travar o progresso.

Nosso diálogo interno também é linguagem. Ele tem um peso enorme na construção da autoestima. Repetir frases como “não sou bom o suficiente” pode diminuir a autoconfiança ao longo do tempo. Já expressões como “estou me fortalecendo” e “estou em processo de aprendizado” criam narrativas mais saudáveis e encorajadoras.

As palavras de afirmação, quando repetidas com intenção, podem fazer toda a diferença. Exemplos simples, como “eu sou capaz”, “eu mereço coisas boas” ou “eu estou me desenvolvendo” têm efeitos diretos na redução de estresse, fortalecimento emocional e na qualidade das relações interpessoais.

Escolher bem as palavras também transforma relações. Em momentos de tensão, usar uma linguagem conciliadora pode evitar mal-entendidos e abrir espaço para diálogo. Feedbacks construtivos e empáticos têm efeitos muito mais duradouros do que críticas severas que só apontam falhas.

Além disso, é fundamental reconhecer o impacto social das palavras. Discursos de ódio, termos discriminatórios e ofensas contribuem para o sofrimento de grupos inteiros. Já a linguagem inclusiva e consciente pode criar espaços mais acolhedores e justos.

  • Escolha o presente: diga “eu sou” em vez de “eu serei”, para trazer força ao agora;
  • Seja específico: substitua o “eu sou bom” por “sou uma pessoa comprometida com o que faço”;
  • Seja gentil com você: fale consigo como falaria com alguém que ama;
  • Dê pausas antes de responder: pense no impacto emocional do que será dito;
  • Cultive o hábito das palavras de afirmação: repita diariamente expressões positivas com convicção.

Texto: O poder das palavras: como elas atuam no nosso cérebro? Isabella Bisordi - 30/06/2025 - https://www.bonsfluidos.com.br 
Segundo o neurocientista Mariano Sigman, palavras positivas ativam áreas cerebrais ligadas à recompensa, como o córtex pré-frontal e o núcleo Accumbens – regiões associadas à motivação, tomada de decisões e prazer. Já as palavras negativas despertam a amígdala, centro emocional do medo e da ansiedade. É por isso que um elogio sincero pode nos impulsionar, enquanto uma crítica ríspida pode travar o progresso.

domingo, 22 de junho de 2025

Mitos e formas de se falar e enxergar o espectro autista

 



Autismo e Educação

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, e não uma doença mental.
Existem muitos mitos e verdades sobre o autismo, e é importante esclarecê-los para promover a inclusão e o respeito.

É fundamental entender que cada pessoa no espectro autista é única, com suas próprias características, desafios e habilidades.

Mitos:
  • O autismo é uma doença:
  • O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento, não uma doença que possa ser curada.
  • Autistas são todos iguais:
  • O espectro autista é muito amplo, e cada indivíduo apresenta características e necessidades específicas.
  • Autistas não têm sentimentos:
  • Pessoas autistas podem ter dificuldades em expressar emoções, mas sentem e demonstram afeto de maneiras diferentes.
  • Autistas são antissociais:
  • Muitos autistas desejam interagir socialmente, mas podem ter dificuldades na comunicação e interação.
  • Autistas são agressivos:
  • A agressividade em alguns casos pode ser uma resposta à dificuldade de comunicação ou a ambientes desafiadores, não uma característica inerente ao autismo.
  • Autistas têm inteligência acima da média:
  • Nem todos os autistas possuem habilidades cognitivas superiores, e alguns podem apresentar dificuldades de aprendizado.
  • Vacinas causam autismo:
  • Não há evidências científicas que comprovem essa relação, segundo estudos científicos.
  • Autismo é causado por falta de afeto:
  • O autismo tem causas multifatoriais, incluindo fatores genéticos e ambientais, e não está relacionado à criação ou falta de amor.

Verdades:
  • O autismo é um espectro:
  • O transtorno do espectro autista (TEA) engloba uma variedade de características e níveis de suporte necessários.
  • O diagnóstico precoce é importante:
  • Quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo a pessoa com autismo pode receber intervenções e estímulos que podem melhorar seu desenvolvimento.
  • Existem intervenções eficazes:
  • Há diversas terapias e abordagens que podem ajudar pessoas autistas a desenvolver habilidades sociais, de comunicação e outras áreas importantes.
  • A inclusão é fundamental:
  • É importante que as pessoas com autismo sejam incluídas em ambientes sociais, educacionais e profissionais, com as adaptações e suportes necessários.
  • Autismo é uma condição permanente:
  • O autismo não tem cura, mas com intervenções adequadas, as pessoas podem ter uma boa qualidade de vida e desenvolver seu potencial.
  • Pessoas autistas podem amar e ter empatia:
  • Embora possam ter dificuldades em expressar suas emoções, pessoas autistas podem sentir e demonstrar afeto de maneiras diversas.
  • O autismo pode afetar as funções executivas:
  • Dificuldades em funções executivas como organização, planejamento e atenção podem impactar a vida da pessoa autista.
  • O autismo não é uma doença mental:
  • O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que afeta a forma como o cérebro funciona e processa informações.
  • É importante buscar informações confiáveis sobre o autismo em fontes como instituições de apoio, profissionais de saúde e literatura científica, para combater mitos e promover a conscientização e inclusão.
  • O diagnóstico precoce é importante:
  • Quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo a pessoa com autismo pode receber intervenções e estímulos que podem melhorar seu desenvolvimento.
  • Existem intervenções eficazes:
  • Há diversas terapias e abordagens que podem ajudar pessoas autistas a desenvolver habilidades sociais, de comunicação e outras áreas importantes.
  • A inclusão é fundamental:
  • É importante que as pessoas com autismo sejam incluídas em ambientes sociais, educacionais e profissionais, com as adaptações e suportes necessários.
  • Autismo é uma condição permanente:
  • O autismo não tem cura, mas com intervenções adequadas, as pessoas podem ter uma boa qualidade de vida e desenvolver seu potencial.
  • Pessoas autistas podem amar e ter empatia:
  • Embora possam ter dificuldades em expressar suas emoções, pessoas autistas podem sentir e demonstrar afeto de maneiras diversas.
  • O autismo pode afetar as funções executivas:
  • Dificuldades em funções executivas como organização, planejamento e atenção podem impactar a vida da pessoa autista.
  • O autismo não é uma doença mental:
  • O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que afeta a forma como o cérebro funciona e processa informações.

É importante buscar informações confiáveis sobre o autismo em fontes como instituições de apoio, profissionais de saúde e literatura científica, para combater mitos e promover a conscientização e inclusão.



Menina fala sobre a perspectiva do Autismo para um Autista

terça-feira, 10 de junho de 2025

Saúde Mental e Psiquiatria

 


Cuidar da saúde mental vai muito além de tomar medicação ou “ter força de vontade”. Essa visão simplista ignora a complexidade do ser humano e dos transtornos mentais.

Embora os medicamentos e a psicoterapia sejam pilares essenciais do tratamento (National Institute of Mental Health [NIMH], 2023), eles não agem isoladamente. A prática clínica mostra que o sucesso terapêutico está profundamente relacionado ao estilo de vida do paciente — corpo, mente e ambiente estão interligados.

Hábitos saudáveis não são apenas um complemento: fazem parte ativa do cuidado em saúde mental. Dormir bem, alimentar-se de forma equilibrada, movimentar o corpo regularmente, ter momentos de lazer e cultivar vínculos afetivos e espaços de escuta emocional são atitudes que nutrem o cérebro e aumentam significativamente a eficácia dos tratamentos médicos e psicológicos (Firth et al., 2020; Jacka et al., 2017).

Mais do que aderir a um protocolo, é fundamental que o paciente se sinta protagonista do seu processo de cuidado. O comprometimento com pequenas ações cotidianas pode ter um grande impacto na jornada de recuperação (World Health Organization [WHO], 2022).

O melhor tratamento é aquele que une acompanhamento profissional qualificado com escolhas de vida que promovam bem-estar e sentido. Ignorar esses aspectos pode limitar os avanços. Por outro lado, integrá-los potencializa o caminho para uma vida com mais equilíbrio, autonomia e saúde mental duradoura.

Referências

  • Firth, J., Solmi, M., Wootton, R. E., Vancampfort, D., Schuch, F. B., Hoare, E., ... & Stubbs, B. (2020). A meta-review of "lifestyle psychiatry": The role of exercise, diet, and sleep in the prevention and treatment of mental disorders. World Psychiatry, 19(3), 360–380. https://doi.org/10.1002/wps.20773

  • Jacka, F. N., O'Neil, A., Opie, R., Itsiopoulos, C., Cotton, S., Mohebbi, M., ... & Berk, M. (2017). A randomised controlled trial of dietary improvement for adults with major depression (the ‘SMILES’ trial). BMC Medicine, 15(1), 23. https://doi.org/10.1186/s12916-017-0791-y

  • National Institute of Mental Health (NIMH). (2023). Mental Health Medications and Psychotherapy. https://www.nimh.nih.gov

  • World Health Organization (WHO). (2022). World Mental Health Report: Transforming mental health for all. https://www.who.int/publications/i/item/9789240049338

sexta-feira, 6 de junho de 2025

O que ainda resta?

 


RESTA…

"[…] Lembro-me da festa de aniversário para o meu pai, quando ele completou 60. Pelas aparências ele estava feliz: ele comia, bebia, ria, falava. Em silêncio eu o observava e pensava: “Como está velho…” Vieram-me à memória os versos de T. S. Eliot: “E eles dirão: ‘Seu cabelo, como está ralo!’ Meu casaco distinto, meu colarinho impecável, minha gravata elegante e discreta, confirmada por um alfinete solitário – mas eles dirão: ‘Seu braços e pernas, que finos que estão!'” Compreenderei se pessoas olharem para mim e pensarem pensamentos parecidos aos que pensei ao olhar o meu pai.

Comovo-me ao recordar-me do poema do Vinícius “O Haver”. É um poema crepuscular. Ele contempla o horizonte avermelhado, volta-se para trás e faz um inventário do que sobrou. Fiquei com vontade de fazer algo parecido, sabendo que não sou Vinícius, não sou poeta, nada sei sobre métrica e rimas. E eu começaria cada parágrafo com a mesma palavra com que ele começou suas estrofes: Resta…

Resta a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de beleza e tristeza. Antes que ele comece ao fim do dia o crepúsculo começa na gente. O Miguelim menino já sentia assim: “O tempo não cabia. De manhã já era noite…” Assim eu me sinto, um ser crepuscular. Um verso de Rilke me conta a verdade sobre a vida: “Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um ar de despedida em tudo o que fazemos?”

Restam os amigos. Quando tudo foi perdido, os amigos permanecem. Lembro-me da antiga canção de Carole King “You got a friend”: “Se você está triste, no fundo do abismo e tudo está dando errado, precisando de alguém que o ajude – feche os olhos e pense em mim. Logo logo estarei ao seu lado para iluminar a noite escura. Basta que você chame o meu nome… Você sabe que eu virei correndo pra ver você de novo. Inverno, primavera, verão ou outono, basta chamar que eu estarei ao seu lado. Você tem um amigo…” Eu tenho muitos amigos que continuam a gostar de mim a despeito de me conhecerem. E tenho também muitos amigos que nunca vi.

Resta a experiência de um tempo que passa cada vez mais depressa. “Tempus Fugit”. “Quando se vê já são seis horas. Quando se vê já é sexta-feira. Quando se vê já é Natal. Quando se vê já terminou o ano. Quando se vê não sabemos por onde andam nossos amigos. Quando se vê já passaram cinqüenta anos… ( Mario Quintana)

Resta um amor por nossa Terra, nossa morada, tão maltratada por pessoas que não a amam. Meu deus mora nas fontes, nos rios, nos mares, nas matas. Mora nos bichos grandes e nos bichos pequenos. Mora no vento, nas nuvens, na chuva. Eu poderia ter sido um jardineiro… Como não fui, tento fazer jardinagem como educador, ensinando às crianças, minhas amigas. o encanto pela natureza.

Resta um Rubem por vezes áspero, com quem luto permanentemente e que, freqüentemente, burlando a minha guarda, aflora no meu rosto e nas minhas palavras, machucando aqueles que amo.

Resta uma catedral em ruínas onde outrora moravam meus deuses. Agora ela está vazia. Meus deuses morreram. Suas cinzas, então, voaram ao vento.

Resta, na catedral vazia, a luz dos vitrais coloridos, o silêncio, o repicar dos sinos, o Canto Gregoriano, a música de Bach, de Beethoven, de Brahms, de Rachmaninoff, de Faure, de Ravel…

Resta ainda, nos pátios da catedral arruinada, a música do Jobim, do Chico, de Piazzola…

Resta uma pergunta para a qual não tenho resposta. Perguntaram-me se acredito em Deus. Respondi com versos do Chico: “Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu.” Qual é a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que vai voltar Ou a que arruma o quarto para o filho que não vai voltar? Sou um construtor de altares. É o meu jeito de arrumar o quarto. Construo meus altares à beira de um abismo escuro e silencioso. Eu os construo com poesia e música. Os fogos que neles acendo iluminam o meu rosto e me aquecem. Mas o abismo permanece escuro e silencioso.”

Resta uma criança que mora nesse corpo de velho e procura companheiros para brincar. De que é que a alma tem sede? “De qualquer coisa como tudo que foi a nossa infância. Dos brinquedos mortos, das tias idas. Essas coisas é que são a realidade, embora já morressem. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança” ( Bernardo Soares )

Resta um palhaço… Na véspera de minha volta ao Brasil a jovem ruiva sardenda entrou na minha sala e me disse: “Sonhei com você. Sonhei que você era um palhaço”. E sorriu. Tenho prazer em fazer os outros rirem com minhas palhacices. O que escrevo, freqüentemente, é um espetáculo de circo. Pois a vida não é um circo?

Resta uma ternura por tudo o que é fraco, do pássaro ao velho. Fui um adolescente fraco e amedrontado. Apanhei sem reagir. Cresceu então dentro de mim uma fera que dorme. Mas toda vez que vejo uma pessoa humilde e indefesa sendo humilhada por uma pessoa enfatuada, que se julga grande coisa, a fera acorda e ruge. Tenho medo dela.

Resta a minha fidelidade às minhas opiniões que teimo em tornar públicas, o que me tem valido muitas tristezas e sucessivos exílios. Mas sei que minhas opiniões, todas as opiniões, não passam de opiniões. Não são a verdade. Ninguém sabe o que é a verdade. Meu passado está cheio de certezas absolutas que ruíram com os meus deuses. Todas as pessoas que se julgam possuidoras da verdade se tornam inquisidoras. Por isso é preciso tolerância.

Resta uma tristeza de morrer. A vida é tão bonita. Não é medo. É tristeza mesmo. Lembro-me dos versos da Cecília que sentia a mesma coisa. “E fico a meditar se depois de muito navegar a algum lugar enfim de chegar. O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas e nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias. De longe o horizonte avisto, aproxima e sem recurso. Que pena a vida ser só isso…”

Resta um medo do morrer – aquelas coisas que vêm antes que ela chegue. Eu acho que as pessoas deveriam ter o direito, se quisessem, de dizer: “É hora de partir…” E partissem. Se Deus existe e se Deus é bondade não posso crer que Ele ( ou Ela ) nos tenha condenado ao sofrimento, como última frase da nossa sonata. A última frase deve ser bela.

Resta, quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tic-tac… Só posso dizer: “Carpe Diem” – colha o dia como um fruto saboroso. É o que tento fazer."

Rubem Alves

Crônica “Resta”. livro ‘Pimentas: para provocar um incêndio não é preciso fogo’. São Paulo: Editora Planeta, 2ª ed., 2014.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Construindo relacionamentos saudáveis

 



Construindo Relacionamentos Saudáveis  

Como identificar os mitos dos relacionamentos e potencializar a felicidade


Livro de 2024 que agora chega aos leitores pela Agathos Editora.

O livro Construindo Relacionamentos Saudáveis foi pensado para que os leitores possam fazer reflexões e acessar conhecimento a respeito de habilidades para desenvolver e nutrir relacionamentos seguros, bem como ter consciência do que não é saudável quando falamos de saúde mental e emocional em Relacionamentos afetivos.

O psicólogo René Schubert escreveu o artigo: Quer dançar? Reflexão sobre relacionamentos de casal em tempos de crise

Como inspiração utilizei como referência os autores Joan Garriga e Bert Hellinger





Para adquirir, basta entrar em contato pelo email: rene.schubert@gmail.com